
As doenças que acometem a população mundial em maior número, atualmente são consideradas multifatoriais, ou seja, o seu desenvolvimento está relacionado tanto a fatores ambientais, quanto aos genéticos. Dentre essas patologias, encontramos os cânceres, obesidade, diabetes, as doenças cardiovasculares, entre outras. Assim, para termos de diagnóstico e prescrição de condutas assertivas, considerar não somente os hábitos de vida do paciente, mas também o seu perfil genético e como este responde aos estímulos ambientais, se torna fundamental.
As doenças cardiovasculares, afecções do coração e da circulação, representam a principal causa de mortes no Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (2021). Apesar de grande parte dos fatores de risco para o desenvolvimento das mesmas serem modificáveis e relacionados ao estilo de vida, como sedentarismo, tabagismo, dislipidemias, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, e obesidade, não se pode esquecer que se tratam de doenças multifatoriais, sendo o teor genético importante fator a ser considerado. Nesse contexto entra a ciência da nutrigenômica, tecnologia que proporciona o entendimento das necessidades nutricionais, do metabolismo individual e da resposta gerada por diferentes tipos de genes ao consumo de determinados alimentos. Assim, a partir do estudo genético possibilitado pela nutrigenômica, substâncias que interferem na atividade genética, em especial por aumentarem a atividade de genes associados com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como as cardiovasculares, podem ser substituídos e/ou restritos para aqueles pacientes cujo risco já é existente.
O que já pode ser elucidado pela nutrigenômica?
As evidências obtidas com as pesquisas entre interação dos genes com os nutrientes e as doenças cardiovasculares são relevantes por identificarem a influência de um determinado gene sobre uma população com determinados hábitos alimentares, assim como por avaliarem a resposta de uma intervenção dietética entre indivíduos com diferentes genótipos. Com isso, os profissionais de saúde se tornam hábeis a modular a alimentação a fim de estimular a proteção e prevenção das DCNTs.
Atualmente, sabe-se que os ácidos graxos são nutrientes que possuem ação sobre o DNA, regulando a expressão genética, o que pode resultar em impactos positivos ou negativos nos resultados metabólicos, e por esse motivo, a dieta é essencial devido à sua capacidade em alterar a composição do microbioma intestinal, e também, dos mecanismos genéticos. Alguns nutrientes como ácidos oleico e palmitoleico são associados a uma melhora das alterações metabólicas, enquanto os ácidos graxos saturados (esteárico e palmítico) e ácidos graxos trans (elaídico) são conhecidos pelo perfil pró inflamatório, e relacionados com o surgimento de aterosclerose, principal causador de doenças cardiovasculares.
Por fim, é importante entender que a associação dos alimentos e seus efeitos cumulativos podem interferir no curso das doenças cardiovasculares. Dessa forma, a compreensão de como a predisposição genética, responsável por um grande percentual do risco de doenças cardiovasculares, pode elucidar parte das diferentes respostas obtidas em indivíduos após os mesmos tratamentos dietéticos. Um exemplo observado atualmente são os componentes antioxidantes da dieta, que têm sido estudados pela capacidade de reduzir o estresse oxidativo e as lesões ateroscleróticas, através de reações químicas, durante a digestão dos componentes da dieta. Tal conhecimento facilitaria a prescrição de dietas mais assertivas, quanto ao tratamento, além de abrir um leque de opções de estudo acerca de nutrientes capazes de atuar na prevenção primária (SARAIVA et al., 2020).
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Referências bibliográficas
SARAIVA, Ana Vitória Chequer; MARQUES, Natália de Azevedo; LEAL, Priscilla da Cunha; MACHADO, Rachel Rocha Pinheiro. NUTRIGENÉTICA E NUTRIGENÔMICA: conceitos e abordagens esquemáticas para o processo ensino-aprendizagem deste saber / nutrigenetics and nutrigenomics. Brazilian Journal Of Development, [S.L.], v. 6, n. 9, p. 69737-69751, 2020. Brazilian Journal of Development. http://dx.doi.org/10.34117/bjdv6n9-427.
SCHMIDT, Leucinéia; SODER, Taís Fátima; BENETTI, Fábia. NUTRIGENÔMICA COMO FERRAMENTA PREVENTIVA DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS. Arquivos de Ciências da Saúde da Unipar, [S.L.], v. 23, n. 2, p. 127-137, 16 maio de 2019. Universidade Paranaense. http://dx.doi.org/10.25110/arqsaude.v23i2.2019.6386.
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