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Consumo excessivo de açúcares e desenvolvimento da DHGNA


É muito comum que se associe ao desenvolvimento da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) o consumo excessivo de gorduras alimentares, visto que a esteatose hepática corresponde ao acúmulo de lipídios, na forma de triglicerídeos, no interior dos hepatócitos. Apesar de, entre os fatores de risco para a maior susceptibilidade à essa condição figurar a elevada ingestão de gorduras, especialmente as saturadas e o colesterol, o consumo excessivo de açúcares é igualmente preocupante e associado ao surgimento das condições hepáticas que não se relacionam à ingestão excessiva e crônica de bebida alcoólica. O processo que explica essa associação é o de lipogênese de novo, que acontece no fígado quando há excesso de carboidrato disponível. (Brunt, et. al, 2015; Kasper & Mireille, 2017).


Atualmente, vemos um aumento considerável na contribuição do açúcar adicionado aos produtos para a ingestão calórica diária dos indivíduos. É esse excesso que tem efeitos deletérios para a saúde hepática, principalmente quando ofertado na forma de frutose (e aqui, é muito importante ressaltar que nos referimos à frutose oriunda de produtos ultraprocessados, que está concentrada na forma de xarope de milho rico em frutose, e não das frutas! Nas frutas, além de menores níveis de frutose, também estão presentes diversos outros compostos bioativos e fibras, que são extremamente necessários ao organismo e exercem efeitos positivos na sua metabolização). (Jensen, et. al, 2018)


Entre os fatores que explicam o caráter altamente lipogênico da frutose, ou seja, sua capacidade elevada de ser transformada em compostos lipídicos no fígado, é que sua metabolização acontece prioritariamente neste órgão. Em pessoas saudáveis, a produção de lipídios via frutose a partir do processo de lipogênese de novo não é responsável por um acúmulo expressivo de gordura no fígado; mas em indivíduos com hiperinsulinemia e obesidade, mais de 25% do estoque lipídico hepático é advindo dessa via, o que se correlaciona com maior risco de desenvolver DHGNA em pessoas com essas condições (Kasper & Mireille, 2017, Brunt, et. al, 2015)


O surgimento da esteatose, ou seja, do acúmulo de gordura nas células do fígado é resultado de maior entrada do que saída de lipídios da região hepática. A saída de lipídios geralmente ocorre quando há necessidade de mobilizar gordura para produção de energia. Esse tipo de mobilização parece ser prejudicada pelo consumo agudo - e crônico - de altos níveis de frutose, mostrando que o excesso de açúcares não só aumenta a síntese de componentes lipídicos no fígado, mas também dificulta sua utilização, favorecendo o acúmulo. (Jensen, et, al, 2018; Kasper & Mireille, 2017)


Além desses efeitos mais “diretos” nos níveis de triglicerídeos no fígado, uma enzima responsável pela metabolização da frutose no fígado, a frutoquinase, promove uma depleção temporária de ATP e fosfato nas células hepáticas, aumentando os níveis de ácido úrico e induzindo estresse oxidativo e disfunção mitocondrial. Isso acontece porque, para que a frutose siga na sua via de metabolização, a frutoquinase precisa fosforilar a molécula. Ao fazer isso, ela usa ATP e fosfato intracelular, mas não produz nenhum tipo de feedback negativo para que sua atuação seja controlada, atuando até que os estoques de ATP e fosfato estejam depletados. (Jensen, et. al, 2018)


Estudos experimentais demonstram que a relação entre o consumo excessivo de frutose e o aumento do risco para DHGNA efetivamente existe, apesar de ser observado no longo prazo. Além disso, clinicamente, indivíduos que apresentam DHGNA costumam apresentar maior consumo de frutose do que controles pareados, principalmente a partir de bebidas ultraprocessadas açucaradas. (Jensen, et. al, 2018)


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brunt, E. M., Wong, V. W.-S., Nobili, V., Day, C. P., Sookoian, S., Maher, J. J., … Rinella, M. E. (2015). Nonalcoholic fatty liver disease. Nature Reviews Disease Primers, 15080. doi:10.1038/nrdp.2015.80


Jensen, T., Abdelmalek, M. F., Sullivan, S., Nadeau, K. J., Green, M., Roncal, C., … Johnson, R. J. (2018). Fructose and sugar: A major mediator of non-alcoholic fatty liver disease. Journal of Hepatology, 68(5), 1063–1075. doi:10.1016/j.jhep.2018.01.019


Kasper, W. T. H & Mireille, J. S.(2017). Fructose Consumption, Lipogenesis, and Non-Alcoholic Fatty Liver Disease. Nutrients, 9(9), 981. doi:10.3390/nu9090981

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