A principal característica da dieta cetogênica é a baixa quantidade de carboidratos - apenas 50 gramas por dia ou o equivalente a 10% do valor energético total da dieta, no máximo. Nessa situação o organismo passa a utilizar a gordura como fonte de energia. Como as moléculas de ácidos graxos livres não conseguem ultrapassar a barreira hematoencefálica, as mitocôndrias do fígado convertem-nas em corpos cetônicos (hidroxibutirato, acetato e acetoacetato) para que possam ser utilizados como fonte de energia.
Essa dieta pode ser indicada para o tratamento e o controle de diabetes, Síndrome dos Ovários Policísticos, epilepsia, obesidade, síndrome metabólica e esclerose múltipla – sempre de maneira individualizada. Os efeitos da dieta cetogênica na microbiota intestinal dependem mais do tipo de alimento consumido do que da quantidade de carboidrato. Vale considerar o tipo de gordura consumida pelo paciente e seus possíveis efeitos à composição da microbiota. Ainda, outro ponto de atenção é a ingestão de fibras: uma dieta cetôgenica desequilibrada pode resultar em uma baixa ingestão de fibras prejudicando a saúde intestinal.
Uma dieta equilibrada, baseada em verduras, frutas, proteínas vegetais com proteínas magras e quantidades adequadas de antioxidantes é capaz de beneficiar a microbiota intestinal, aumentando a síntese de ácidos graxos de cadeia. Os benefícios desse padrão dietético também são observados no sistema nervoso central – aumento dos níveis de GABA, por exemplo, que é um neurotransmissor responsável por modular a atividade de serotonina, dopamina e noradrenalina.
Bifidobacterium, Lactobacillus e leveduras (probióticos) isolados ou adicionados a alimentos são indicados para melhorar a microbiota durante a dieta cetogênica. Fruto-oligossacarídeos, galacto-oligossacarídeos e trans-galacto-oligossacarídeos (prebióticos) podem ser oferecidos para aumentar a síntese de ácidos graxos de cadeia curta. Alimentos fermentados podem aumentar a diversidade da microbiota, favorecendo a saúde intestinal.
Enquanto isso, uma dieta baseada em produtos ultraprocessados (ricos em edulcorantes, gordura trans, corantes e outros aditivos alimentares), com baixa quantidade de antioxidantes, vitaminas e minerais prejudica a microbiota intestinal.
Avaliar a qualidade nutricional de um alimento de maneira global é mais importante do que analisar apenas a quantidade de carboidrato que ele contém. Sem dúvidas, é possível seguir uma dieta cetogênica e manter ou até mesmo melhorar a saúde intestinal.
Referência:
Cabrera, M. A.; et. al. Keto microbiota: A powerful contributor to host disease recovery. Rev Endocr Metab Disord. 2019 Dec;20(4):415-425. doi: 10.1007/s11154-019-09518-8. PMID: 31720986; PMCID: PMC6938789.
PAOLI, A.; et al. “Ketogenic Diet and Microbiota: Friends or Enemies?” Genes vol. 10,7 534. 15 Jul. 2019, doi:10.3390/genes10070534.
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