Os hábitos dietéticos atuais, na maior parte do mundo, se caracterizam por um padrão alimentar considerado “ocidentalizado”: consumo excessivo de produtos ultraprocessados, açúcar, carboidratos refinados, gorduras trans e saturadas, carnes processadas e aditivos químicos, deixando de lado a ingestão adequada de fibras, proteínas de qualidade, vitaminas, minerais, fitoquímicos e gorduras insaturadas.
Em relação a estas últimas, esse padrão ocidental se caracteriza ainda por uma elevada relação ômega 6/ômega 3, que acontece quando há maior ingestão do primeiro em detrimento do segundo. E o que isso significa?
Tanto o ômega 6 quanto o ômega 3 são tipos de ácidos graxos insaturados, porém apresentam estruturas diferentes. Isso faz com que os seus efeitos fisiológicos também sejam diferentes, com o primeiro sendo caracterizado como precursor de eicosanóides mais pró-inflamatórios, enquanto o segundo origina eicosanóides de caráter mais anti-inflamatório. Quando prevalecem na alimentação as fontes alimentares de ômega 6, como óleo de girassol, margarina e outros óleos vegetais, há riscos de um ambiente mais propenso à inflamação. E em pacientes com doença inflamatória intestinal, esse tipo de cenário deve ser evitado.
No manejo tanto da Doença de Crohn quanto da Colite Ulcerativa, o primeiro objetivo é induzir e manter a remissão. Dessa forma, busca atingir-se o segundo objetivo, de reduzir os impactos psicossociais e sintomas depressivos associados às crises. Essa proposta terapêutica beneficia-se ainda quando é possível reduzir o uso de fármacos, visto que estes se associam com efeitos colaterais indesejados.
Uma maneira de fazer essa redução é a partir do manejo dietético, por exemplo, e é aqui que entra um possível papel para o ômega 3. Acredita-se que os ácidos graxos ômega 3 (docosahexaenóico - DHA, eicosapentaenóico - EPA, e alfa linolênico - ALA) originam eicosanóides que reduzem parâmetros fisiológicos associados à inflamação como o recrutamento de leucócitos, a expressão de moléculas de adesão e produção de citocinas pró inflamatórias. Reduzindo marcadores de inflamação, atribui-se um possível papel preventivo e/ou de atenuação das crises e sintomas em relação às doenças inflamatórias intestinais. Além disso, devido às suas principais fontes alimentares (peixes, vegetais verde escuros, semente de linhaça), inevitavelmente a maior ingestão de ômega 3 tende a alterar o balanço de ingestão nutricional total para um perfil mais favorável para a microbiota, intrinsecamente relacionada com a patogênese e severidade das DII.
Parece haver menor prevalência de Colite Ulcerativa entre aqueles indivíduos com maior consumo de ômega 3, enquanto os efeitos para manutenção da remissão de Doença de Crohn são levemente favoráveis ou neutros e para a Colite Ulcerativa são nulos. O que há disponível até então leva a crer que a suplementação de ômega 3 sozinha não deve ser adotada como escolha terapêutica pois não parece conferir efeitos benéficos no manejo das DII, mas pode ser eficaz quando o uso é feito de maneira concomitante aos tratamentos convencionais. Além disso, as fontes alimentares desse nutriente tendem a apresentar características que favorecem uma composição de microbiota que pode ser uma aliada no controle das doenças inflamatórias intestinais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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