As doenças cardiovasculares (DCV’s) são uma das principais causas de morte em todo o mundo. Dos diversos fatores etiológicos, os microrganismos compreendem uma parte importante. Desde o impacto local da microbiota intestinal no metabolismo energético à associação com funções fisiológicas extraintestinais, a microbiota tem um impacto significativo na saúde cardiovascular.
O intestino humano contém trilhões de células bacterianas que são relatadas em uma proporção de, aproximadamente, 1:1 com nossas próprias células. Assim, formam uma população que tem intensa atividade metabólica. Descreve-se a microbiota como um novo órgão humano, e sua associação íntima com a mucosa intestinal, que também é altamente ativa e apresenta uma elevada taxa de renovação celular, pode ter impacto na saúde humana, prevenção e precipitação de doenças. O acúmulo de evidências sugere que a microbiota intestinal desempenha papel importante no controle da progressão de doenças cardiovasculares, o que apoia a relação eixo microbiota-intestino-coração. Bactérias com capacidade de produzir butirato e outros compostos bioativos, como trimetilamina (TMA), endotoxinas (LPS) e fenilacetil glutamina (PAG1n) desempenham papéis no eixo intestino-coração.
O equilíbrio da microbiota é a chave para a manutenção da imunidade e toda a homeostase corporal. Qualquer interrupção deste equilíbrio pode levar a consequências fisiopatológicas importantes. Embora a caracterização de uma microbiota saudável seja influenciada por diversos fatores, as mudanças na proporção nas comunidades de Firmicutes (F) e Bacteroidetes (B), conhecido como a razão F/B, pode ser potencialmente usada como um biomarcador para condições patológicas advindas da disbiose intestinal. A disbiose intestinal pode levar à translocação de produtos bacterianos para a circulação sistêmica e induzir respostas inflamatórias exacerbadas.
Nas vilosidades intestinais, as arteríolas e vênulas formam um sistema microcirculatório. Portanto, o oxigênio arteriolar desvia-se para as vênulas antes de atingir as vilosidades, o que resulta em menor concentração de oxigênio. Em pacientes com DCV’s, há distúrbios da microcirculação intestinal devido à redução da perfusão, aumento da congestão intestinal e vasoconstrição. Essas alterações hemodinâmicas levam a hipóxia exagerada, principalmente nas vilosidades intestinais. Na verdade, as células epiteliais intestinais podem tornar-se funcionalmente danificadas, particularmente em situações de disbiose intestinal.
O desequilíbrio na microbiota é capaz de produzir substâncias nocivas, ao passo que reduz gradativamente substâncias essenciais, como os ácidos graxos de cadeia cura (AGCC’s). Como resultado, a barreira intestinal é prejudicada e quantidades substanciais de toxinas, como LPS e TMA, tomam a corrente sanguínea e influenciam fatores de risco para aterosclerose, como plaquetopenia e trombose, estresse oxidativo e resposta inflamatória exacerbada. A alta atividade de LPS sérico ocorre devido a disbiose e associa-se ao desenvolvimento de aterosclerose. Por isso, evidências sugerem que a microbiota intestinal pode desempenhar um papel chave no controle da homeostase da pressão arterial e saúde cardiovascular, e que qualquer mudança na composição ou desequilíbrio da microbiota pode resultar potencialmente em hipertensão arterial sistêmica (HAS).
Referências:
TANG, W.H. Wilson; BÄCKHED, Fredrik; LANDMESSER, Ulf; et al. Intestinal Microbiota in Cardiovascular Health and Disease. Journal of the American College of Cardiology, v. 73, n. 16, p. 2089–2105, 2019. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6518422/>.
ZHANG, Yixin; WANG, Yuan; KE, Bingbing; et al. TMAO: how gut microbiota contributes to heart failure. Translational Research, v. 228, p. 109–125, 2021. Disponível em: <https://www.translationalres.com/article/S1931-5244(20)30203-6/fulltext>.
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