Existem diferentes formas de modular a microbiota. Sabendo do impacto que esta tem no aumento da susceptibilidade à doença hepática não gordurosa (DHGNA), assim como na progressão dessa condição, lançar mão de estratégias de melhora do perfil do microbioma pode ser um importante adjuvante terapêutico e até mesmo fator preventivo contra doenças hepáticas não causadas pelo consumo excessivo de álcool. A dieta e o uso de probióticos, prebióticos e simbióticos são maneiras de fazer alterações benéficas no perfil de microrganismos que habitam o trato gastrointestinal.
O uso de antibióticos também é cunhado como possibilidade para modular a microbiota como parte do tratamento de indivíduos já acometidos pela DHGNA. Mas o que seriam essas alterações benéficas na microbiota? Pensando no contexto da DHGNA, são alterações que promoveu um microbioma com efeitos anti-inflamatórios, fortalecimento da função de barreira, diminuição da produção de etanol, regulação do metabolismo energético e modulação da sinalização de colina e ácidos biliares. (Safari & Gérard, 2019)
Algumas alterações observadas em pacientes com DHGNA, como por exemplo: aumento dos filos Firmicutes e Proteobacteria, com redução de Bacteroidetes; maiores níveis de espécies da família Enterobacteriaceae; e diminuição de gêneros como Anaerosporobacter, Coprococcus, Eubacterium, Faecalibacterium e Prevotella, auxiliam a dar insights de possíveis alvos a serem considerados na modulação da microbiota desses indivíduos. (Chen & Vitetta, 2020)
O uso de prebióticos, apenas para citar alguns exemplos, tem demonstrado resultados promissores na diminuição de hepatotoxinas bacterianas, melhora da barreira intestinal, redução da inflamação e da lipogênese de novo, alterações na sensação de saciedade e controle glicêmico mais satisfatório. Além disso, esses componentes não digeridos pelo intestino humano e que servem de substrato para as bactérias intestinais também são capazes de dar origem aos ácidos graxos de cadeia curta, que estão associados ao aumento de espécies benéficas, como Bifidobacteria e Lactobacilli. (Safari & Gérard, 2019)
Quando prebióticos são associados à probióticos, temos como resultado os simbióticos. Com o uso destes, os resultados benéficos podem ser ainda maiores; porém é preciso ajustar com cuidado a dose utilizada, de acordo com os hábitos alimentares e características individuais, para evitar desconfortos gástricos. (Hu, et. al, 2019)
E claro, a dieta! A sua composição é um dos principais fatores que afetam a microbiota e acredita-se que alterações favoráveis nos quadros de DHGNA obtidas a partir de melhora da alimentação estão relacionadas às mudanças causadas na microbiota. Um padrão alimentar rico em fibras, compostos bioativos com potencial antioxidante e anti-inflamatório e preferência por gorduras insaturadas é considerado promissor na melhora do perfil microbiano, das funções metabólicas dos microrganismos e da permeabilidade intestinal, devendo ser encorajado como fator protetor contra o ganho de peso, desenvolvimento de síndrome metabólica e - consequentemente - de DHGNA. (Safari & Gérard, 2019)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Safari, Z., & Gérard, P. (2019). The links between the gut microbiome and non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD). Cellular and Molecular Life Sciences. doi:10.1007/s00018-019-03011-w
Chen, J., & Vitetta, L. (2020). Gut Microbiota Metabolites in NAFLD Pathogenesis and Therapeutic Implications. International Journal of Molecular Sciences, 21(15), 5214. doi:10.3390/ijms21155214
Hu, H., Lin, A., Kong, M., Yao, X., Yin, M., Xia, H., … Liu, H. (2019). Intestinal microbiome and NAFLD: molecular insights and therapeutic perspectives. Journal of Gastroenterology. doi:10.1007/s00535-019-01649-8
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