
A sensibilidade ao glúten não celíaca (SGNC) é o termo usado para descrever a presença de sintomas relacionados à ingestão de glúten, de modo que estas manifestações apresentem melhora ou desapareçam após a retirada dessa proteína.
A prevalência desta condição é desconhecida, especialmente em crianças. Evidências indiretas sugerem que a sensibilidade afeta até 5-10% da população ocidental, sendo ligeiramente mais comum que a doença celíaca. Além disso, foi descrita principalmente em adultos, particularmente em mulheres na faixa etária de 30 a 50 anos. Entretanto, uma série de casos pediátricos também são relatados.
Os sintomas intestinais incluem dor abdominal, inchaço e diarréia. Assim também como extra-intestinais, como fadiga, dor de cabeça, dores articulares e/ou dores musculares, perda de peso, anemia, dermatite e distúrbios comportamentais.
Além do glúten, outras moléculas, como os FODMAPs, podem ser a causa dos sintomas típicos da sensibilidade ao glúten não celíaca. A lista FODMAP, inclui frutanos, galactanos, frutose e polióis que estão contidos em vários alimentos. Assim, deve-se ressaltar que a redução da ingestão de alimentos fermentáveis pode auxiliar na melhora dos sintomas. No entanto, esta conduta não é exclusivamente responsável pelo fim dos sintomas, sendo ela coadjuvante no tratamento.
Vários estudos sugerem que existe uma relação entre a sensibilidade e transtornos neuropsiquiátricos, com destaque para o transtornos do espectro autista e esquizofrenia. Esta hipótese é ligada à suposição do fenômeno ‘leaky gut’, envolvendo o eixo cérebro-intestino.
Supondo a existência de um aumento da permeabilidade intestinal, o glúten e os peptídeos semelhantes ao glúten podem entrar na corrente sanguínea e atravessam a barreira hematoencefálica. Diante disso, interagem com receptores cerebrais e podem afetar o comportamento de um indivíduo, ou desencadear a ativação de células imunes que migram para o cérebro e causam neuroinflamação.
Os genótipos HLA-DQ2 e/ou HLA-DQ8 são genes envolvidos com a sensibilidade ao glúten não celíaca. Embora essas moléculas sejam encontradas em apenas cerca de 50% dos pacientes acometidos, o que não é muito diferente da população geral.
Devido à falta de biomarcadores específicos para a sensibilidade ao glúten não celíaca, o fechamento do diagnóstico torna-se um desafio. De maneira que se baseia na exclusão da alergia ao trigo e da doença celíaca.
Uma padronização recém-desenvolvida apresentada pelos “critérios de Salerno”, sugeriu um conjunto de diretrizes sobre como manejar o diagnóstico. Sendo assim, para confirmar a presença de SGNC, o paciente deve realizar um teste de provocação oral (duplo-cego controlado por placebo) e ser capaz de identificar ao receber glúten.
A dieta livre de glúten é necessária para o tratamento nos casos de SGNC.Em consonância com isso, os pacientes apresentam diferentes limiares de tolerância ao glúten. Portanto, deve-se avaliar os níveis de tolerância, a fim de determinar se uma dieta de exclusão é realmente necessária.
Uma dieta com baixo teor de FODMAP pode reduzir a presença de sintomas. No entanto, a implementação desta dieta deve ser cuidadosamente considerada, pois tem sido associada com uma baixa ingestão de antioxidantes naturais e ingestão de micronutrientes. Sendo assim, o acompanhamento de um profissional qualificado para conduzir o tratamento, faz-se fundamental.
Referências bibliográficas
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