
A glutamina é um aminoácido não essencial, mas que em condições de intenso catabolismo pode ter a sua produção endógena prejudicada, adquirindo uma característica de “condicionalmente essencial”, ou seja, passar a ser necessário sua ingestão via alimentação e/ou suplementação.
Entre as suas principais funções no organismo está a de servir como fonte de energia para os enterócitos, células intestinais, e ser substrato para síntese de glutationa, um dos mais importantes antioxidantes do sistema endógeno. Inflamação e estresse oxidativo são dois processos que andam juntos e que são responsáveis por causar enormes danos teciduais. No microambiente intestinal altamente inflamatório das DII, a presença de radicais livres pode atingir níveis exacerbados, e, estando além da capacidade antioxidante fisiológica, causar prejuízo ao tecido intestinal, além daquele resultante da extensa resposta inflamatória.
A justificativa para o uso de suplementação de glutamina em pacientes com DII é uma provável melhora na permeabilidade e prevenção da atrofia intestinal, esta última sendo uma condição mais comum principalmente em pacientes que, devido às crises, são submetidos à nutrição parenteral (endovenosa). Sem a presença dos nutrientes no lúmen, o intestino passa por alterações morfológicas que comprometem o seu correto funcionamento, como redução na síntese de proteínas, DNA, muco e outros componentes sintetizados pelas células das criptas.
Em relação à permeabilidade, o elevado conteúdo de citocinas pró-inflamatórias resultantes da resposta imune inadequada característica das DII parece exercer influência na perda da função de barreira intestinal. Essa função é essencial para impedir a reatividade imunológica e proteger as estruturas intestinais. Depende da integridade de componentes como as tight junctions, que mantêm a ligação entre as células epiteliais, impedindo a entrada de toxinas e microrganismos patogênicos na circulação.
Em estudos com animais, a glutamina se mostrou eficiente na melhora da disfunção da integridade da barreira e da atrofia intestinal, resultado corroborado em estudos in vitro. No caso do uso em humanos, os resultados são mistos, mas devem ser considerados com cautela, pois geralmente incluem um número pequeno de participantes.
Muitos dos estudos se debruçam sobre o uso de fórmulas enterais enriquecidas com glutamina para remissão das crises da Doença de Crohn, quadro em que o enriquecimento com esse aminoácido não parece apresentar diferença significativa em relação ao não uso, não existindo evidência suficiente para recomendar sua utilização. Em um estudo conduzido por Den Hond, et. al, mesmo a suplementação oral em doses de mais de 20g/dia não promoveu melhoras na permeabilidade do intestino.
Considerando que os estudos in vitro demonstram possíveis mecanismos que poderiam aliviar a disfunção da barreira intestinal, que muitas vezes se correlaciona diretamente com os sintomas vivenciados por esses pacientes, estudos com maior número de participantes são necessários para corroborar o seu uso na prática clínica, assim como as doses necessárias e qual é o melhor momento para o seu uso.
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