A intolerância à lactose caracteriza um quadro de má digestão e absorção deste carboidrato do leite. Ela ocorre devido a ausência, redução ou mau funcionamento da enzima lactase, responsável por fazer a digestão deste dissacarídeo em glicose e galactose. Após a ingestão de leite e derivados ocorrem sintomas como gases, inchaço, cólicas abdominais e dor às vezes associada a diarreia aquosa e, ocasionalmente, com náuseas e vômitos.
Considera-se que os sintomas da intolerância à lactose são causados pela osmolaridade deste carboidrato. Diante disso, quando não é digerido, passa de forma rápida para o intestino delgado e grosso. Sendo assim, ocorre uma grande fermentação bacteriana da lactose promovendo então, a formação de gases e sensação de desconforto. O ambiente anaeróbico do trato intestinal, resulta em rápida produção de hidrogênio, e em vários estudos clínicos, a quantidade de produção de gás é correlacionada com a presença e gravidade dos sintomas intestinais.
Os genes envolvidos com a intolerância à lactose são os genes LCT e MCM6. Sendo o gene LCT, responsável pela produção da lactase. Já o MCM6 está relacionado a capacidade de regular a expressão da lactase.
Na população caucasiana, a persistência da enzima lactase ocorre em maior frequencia, promovendo um quadro protetor em relação à intolerância, devido a uma mutação de ganho de função no gene LCT (LCT-13'910:C→T, 'T' para tolerância') no cromossomo 2. Este polimorfismo de nucleotídeo único está associado à unidade formadora de proteína, dentro do íntron (região codificadora). Essa mutação cria um novo sítio de ligação para o fator de transcrição que promove a expressão persistente da lactase após a infância.
A expressão da lactase após a infância é considerada um genótipo dominante, e indivíduos com dois alelos LCT-13'910:C/LCT-13'910:C possuem a menor atividade da enzima lactase. No entanto, heterozigotos com genótipo LCT-13'910:C/LCT-13'910:T podem ter a atividade enzimática reduzida. Sendo assim, este fenótipo intermediário pode ser relevante nas doenças intestinais. Uma vez que, podem tolerar de forma parcial a ingestão de produtos contendo lactose.
A intolerância à lactose pode estar presente até mesmo em pacientes que não possuem deficiência enzimática. Visto que a saúde intestinal e o estado inflamatório podem atuar diretamente na função enzimática. Esta condição é conhecida como intolerância secundária à lactose e portanto ela não é uma condição definitiva.
A lactase está situada na ponta das vilosidades intestinais, sendo assim está vulnerável a lesões intestinais, especialmente porque novos enterócitos imaturos são deficientes em lactase. Como consequência, a intolerância secundária pode complicar as condições gastrointestinais, como a doença celíaca, síndrome do intestino irritável e gastroenterites.
Existe uma alta prevalência de intolerância secundária em condições que afetam a integridade da mucosa ou função do intestino delgado. Pacientes com um novo diagnóstico de doença celíaca muitas vezes têm um resultado positivo para intolerância à lactose. No entanto, muitos recuperam a capacidade de digerir a lactose após 6 a 12 meses em dieta isenta de glúten.
Referências bibliográficas
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