A microbiota intestinal evoluiu com o ser humano para adaptação aos estilos de vida, e promove benefícios como o fornecimento de nutrientes essenciais, na síntese de vitaminas e facilitando a digestão de fibras não digeríveis. Ainda, as bactérias intestinais promovem integridade da barreira da mucosa, o que evita que antígenos e patógenos entrem no sistema circulatório por meio da mucosa intestinal – além de exercer diversos efeitos sistêmicos por meio da comunicação com outros órgãos como fígado e cérebro.
A coloração, formato, textura e frequência com que as fezes são eliminadas do organismo podem informar sobre o hábito alimentar (carnívoro, herbívoro, onívoro), faixa etária (recém-nascido, jovem, adulto) e, mais importante, sobre o estado de saúde do indivíduo, com presença de diarreias infecciosas, verminoses, fezes sanguinolentas ou constipação.
A ciência que estuda as fezes é a Coprologia. Na medicina, as fezes podem confirmar diagnósticos ou prognósticos para diferentes doenças, sobretudo àquelas decorrentes de parasitose. O exame coprológico analisa as funções digestivas, dosagem de gordura fecal, sangue oculto e presença de parasitas intestinais. Por esse método, podem-se determinar a presença de aceleração ou diminuição do trânsito intestinal, bem como detectar insuficiências digestivas de origem gástrica, biliar, do intestino delgado ou cólon. A pesquisa de sangue oculto é importante na avaliação de anemias crônicas, câncer de cólon e lesões de mucosa intestinal.
Diversos parasitas e comensais intestinais podem ser detectados através do exame parasitológico de fezes, dentre eles a Giardia lamblia, a Entamoeba histolytica e helmintos, tais como a Taenia solium, Taenia saginata e os ancilostomídeos. O estudo bacteriológico permite a detecção, por metodologias microbiológicas padronizadas, de diversas bactérias enteropatogênicas associadas a surtos de diarreia alimentar, como as Salmonellas e Shighellas, ou a endemias mundiais, como o Vibrio cholerae.
Para o exame, é recomendável que se suspenda medicamentos laxantes e/ou supositórios e bebidas alcóolicas 3 dias antes da coleta. Em relação aos alimentos, é recomendado manter a dieta habitual e, nas últimas 72h antes da coleta, incluir nas refeições principais (almoço/jantar) quantidades usuais de carnes, batata e feijão, e nas demais refeições, como café da manhã e lanche da tarde, incluir manteiga e leite. Ao final do 4º dia, colher parte do volume fecal da primeira evacuação do dia para entrega no laboratório, utilizando recipientes limpos e secos e sem que o material entre em contato com urina, água, gordura ou outro elemento. Para pacientes recém-nascidos e crianças, recomenda-se unir e refrigerar amostras fecais de mais de uma evacuação, realizadas no mesmo dia e enviadas em um único frasco, totalizando 10 a 15 gramas.
Referências:
Lima, Neuza; Gomes, Suzete; Mors Cabral, Luiz; et al. Fezes: o que elas nos contam? Revista de Ciência Elementar, v. 7, n. 3, 2019. Disponível em: <https://rce.casadasciencias.org/rceapp/art/2019/058/>.
Paixão, Ludmilla; Castro, Fabiola. Colonização da microbiota intestinal e sua influência na saúde do hospedeiro. Universidade: Ciências da Saúde, v. 14, n. 1, 2016. Disponível em: <https://www.publicacoes.uniceub.br/cienciasaude/article/view/3629>.
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