Suplementação de glutamina nas DII
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- 7 de jan. de 2022
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A glutamina Ć© um aminoĆ”cido nĆ£o essencial, mas que em condiƧƵes de intenso catabolismo pode ter a sua produção endógena prejudicada, adquirindo uma caracterĆstica de ācondicionalmente essencialā, ou seja, passar a ser necessĆ”rio sua ingestĆ£o via alimentação e/ou suplementação.
Entre as suas principais funƧƵes no organismo estĆ” a de servir como fonte de energia para os enterócitos, cĆ©lulas intestinais, e ser substrato para sĆntese de glutationa, um dos mais importantes antioxidantes do sistema endógeno. Inflamação e estresse oxidativo sĆ£o dois processos que andam juntos e que sĆ£o responsĆ”veis por causar enormes danos teciduais. No microambiente intestinal altamente inflamatório das DII, a presenƧa de radicais livres pode atingir nĆveis exacerbados, e, estando alĆ©m da capacidade antioxidante fisiológica, causar prejuĆzo ao tecido intestinal, alĆ©m daquele resultante da extensa resposta inflamatória.
A justificativa para o uso de suplementação de glutamina em pacientes com DII Ć© uma provĆ”vel melhora na permeabilidade e prevenção da atrofia intestinal, esta Ćŗltima sendo uma condição mais comum principalmente em pacientes que, devido Ć s crises, sĆ£o submetidos Ć nutrição parenteral (endovenosa). Sem a presenƧa dos nutrientes no lĆŗmen, o intestino passa por alteraƧƵes morfológicas que comprometem o seu correto funcionamento, como redução na sĆntese de proteĆnas, DNA, muco e outros componentes sintetizados pelas cĆ©lulas das criptas.
Em relação Ć permeabilidade, o elevado conteĆŗdo de citocinas pró-inflamatórias resultantes da resposta imune inadequada caracterĆstica das DII parece exercer influĆŖncia na perda da função de barreira intestinal. Essa função Ć© essencial para impedir a reatividade imunológica e proteger as estruturas intestinais. Depende da integridade de componentes como as tight junctions, que mantĆŖm a ligação entre as cĆ©lulas epiteliais, impedindo a entrada de toxinas e microrganismos patogĆŖnicos na circulação.
Em estudos com animais, a glutamina se mostrou eficiente na melhora da disfunção da integridade da barreira e da atrofia intestinal, resultado corroborado em estudos in vitro. No caso do uso em humanos, os resultados são mistos, mas devem ser considerados com cautela, pois geralmente incluem um número pequeno de participantes.
Muitos dos estudos se debruçam sobre o uso de fórmulas enterais enriquecidas com glutamina para remissão das crises da Doença de Crohn, quadro em que o enriquecimento com esse aminoÔcido não parece apresentar diferença significativa em relação ao não uso, não existindo evidência suficiente para recomendar sua utilização. Em um estudo conduzido por Den Hond, et. al, mesmo a suplementação oral em doses de mais de 20g/dia não promoveu melhoras na permeabilidade do intestino.
Considerando que os estudos in vitro demonstram possĆveis mecanismos que poderiam aliviar a disfunção da barreira intestinal, que muitas vezes se correlaciona diretamente com os sintomas vivenciados por esses pacientes, estudos com maior nĆŗmero de participantes sĆ£o necessĆ”rios para corroborar o seu uso na prĆ”tica clĆnica, assim como as doses necessĆ”rias e qual Ć© o melhor momento para o seu uso.
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